Pode ser que um sono bem dormido faça você mudar de opinião — ou não. Pode não ser e pode ser; quem vai saber? Até amanhã tudo pode acontecer, posso morrer, e até viver de amor eterno ao lado seu. (Você e eu.)
(Pois é.) Meu otimismo até me contagia; minha alegria, dia a dia, sobe mais de cotação. Se você voltar, recomeçar, serei feliz; se não voltar, serei feliz, serei feliz. Minha razão vai muito em paz nas relações com o coração.
Este dilema em meu sistema não é problema que me possa espezinhar; na minha bossa a fossa foi-se e vai ficar. (Nem quer voltar!)
Pode ser que um sono bem dormido faça você mudar de opinião, senão, tem muito tempo, vamos ver, não tenho pressa, ninguém me apressa, e por que me aborrecer? Posso morrer.
E além do mais, sinto certeza quase certa de que amanhã, na hora certa, o nosso encontro encantará o acontecer de vida aberta ensaiando o amanhecer.
Velas vermelhas abertas ao vento como a carne das ruas, como o corpo das frutas, como as moças novas, nuas, nadam nas noites de lua.
Terras vermelhas e casas antigas, fotos em velhas paredes dormem no sono das lendas, como as moças novas, nuas, dormem no colo das redes.
E dormi no rio manso de seu corpo. Velei o seu descanso e enlueceu. Madrugou. Você sumiu como um ladrão na madrugada. Como as moças novas, nuas, brincam de amor e... mais nada.
Tirei meu coração do gelo e mergulhei distante da dor. Girei num girassol gigante e me deitei nos braços do sol. Mirei minha miragem pálida entre os estilhaços do espelho, e um sol vermelho saiu, sangrou, feriu, furou o silêncio de meus medos, os segredos de meu sonho. E um sinal se viu. O mar se abriu. Você surgiu molhada em luz. E pousou seus pés na espuma, caminhando pelas águas. Abraçou meu pranto. Beijou meus olhos. Lavou meu rosto em seu olhar de lua cheia.
E na areia, o vento em véu violenta, inventa o céu. Uma nuvem morre. O sol escorre. Amanheceu. Você dançou, chorou, gingou, girou, jurou um amor maior que a vida, sem medida, medo ou lágrima. E se abriu em flor, se abriu sorrindo. Amou tão lindo. Sorriu tão lindo. Amou demais.
Parceria com Michel Pedro Filho Varginha, 1972 Índice Canções
Tento te esquecer, invento tanto, e no entanto, meu intento se desmancha no espaço. Então, eu tento te esquecer, mas, já não sei o que fazer pra desfazer tua presença em meu cansaço.
Quando fico só, eu só consigo ter comigo a tua ausência, tão constante, tão doída. Então, eu tento te esquecer em minha insônia, e não consigo. E te persigo pela sombra, pela vida.
Tento te esquecer, invento tanto, e no entanto, eu já não posso te esconder que estou chorando. Enfim, eu sinto o fim, eu sinto um sonho morno sufocando. Um sonho morto, me envolvendo, me matando.
Eu me sentei à mesa, aceitei a tristeza, e fiquei no meu canto. Meus olhos, no entanto, procuram parados. Meu sonho cansado atravessa o salão.
Eu me deitei na saudade, e vesti a vontade de pular na vida. Entrei nos cordões de tua alegria. Entrei no teu dia, e peguei tua mão
E agora eu morro de rir, de cantar, de brincar. Todo mundo de perna pro ar. Quero sumir, nos teus braços, fugir que a alegria é capaz de matar. Vem cá, vem cá, vem cá, vem cá!
Fim. Os tambores da festa Calaram seu canto excitado; um sopro de sonho ainda resta nos olhos do namorado.
Pelo braço, a menina. Pela frente a madrugada. Um luar ainda ilumina As promessas na calçada.
Carnaval é festival de ilusões. de esperanças perdidas em salões.
Fim. A caminho da vida; rei morto, rei posto; Rei Momo abandona os cordões. E o povo entre sonhos e cinzas proclama outros reinos em suas canções. O amor que você me negou não fez mal, mesmo assim fiz meu carnaval.
Carnaval é festival de ilusões, de esperanças perdidas em salões.
Parceria com Pedro Gomes da Silva e Sílvio Brito Varginha, 1967 Índice Canções