Festa do Povo
Quando as casas não tinham portas
— e se davam as mãos —
nos jardins, girassois e frutas,
na cozinha, o pão
E havia povo
que pegava peixe pra viver
E havia gente
que fazia festa sem querer
E havia moça
que fazia doce pra vender.
E havia festa.
E havia moça.
Quando as ruas não tinham medo
— flor de pé no chão —
nos mercados, pasteis e panos,
sangue e coração.
E havia povo
que fazia pano pra vender.
E havia gente
que pegava peixe sem querer
e havia moça
que fazia festa pra viver.
E havia pão
E havia peixe.
E havia casa
que pegava moça pra vender
E havia gente
que fazia gente sem querer.
E havia sangue.
E havia sangue.
E havia gente
que vendia o povo pra viver
E havia gente
que sangrava gente por querer.
E havia povo.
Parceria com Jean Garfunkel
São Paulo, 1974