Falta
Melhor voltar
no meu caminho agora.
A falta de uma estrela
que me aponte o norte.
A falta de uma vela
que devasse a noite.
A falta do comboio
que levasse o medo.
A falta do segredo
que lavasse o pranto,
que molhasse a sede,
que apressasse o passo,
que ensinasse o rumo,
que soltasse o laço.
Melhor voltar,
que demora a madrugada.
Que, na falta de pousada,
sigo em noite, e sem amigo.
E — no escuro dessa estrada —
falta o amor pra vir comigo.
Melhor voltar,
no meu caminho agora.
A falta da licença
de falar o povo.
A falta de incentivo
pra tentar de novo.
A falta de coragem
pra mudar a sorte.
A falta do remédio
que matasse a morte.
A falta de uma crença
que me satisfaça,
de uma solução
que repartisse a praça.
A falta de esperança.
Vontade de morrer.
A falta que faz falta.
A falta de você.
(ainda sem música)
São Paulo, 1969